Espiritualidades

15 coisas que pessoas de religiões de matriz afro gostariam de te dizer

A liberdade de expressão e de culto são asseguradas pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pela Constituição Federal do Brasil.

Porém, o Brasil teve 697 denúncias de intolerância religiosa entre 2011 e 2015, sendo as religiões afro-brasileiras o maior alvo das queixas.

Este post foi feito com a ajuda dos seguintes praticantes de religiões de matriz afro: Júlia Pereira (redatora do blog Umbanda EAD), Juarez Xavier (pesquisador do tema e professor no Departamento de Comunicação Social da Unesp), Carolina Pinho (doutora em Educação pela Unicamp), Larissa Pelucio (professora de antropologia no Departamento de Ciências Humanas da Unesp), Roger Cipó (fotógrafo) e Guillermo Santos (videomaker do BuzzFeed Brasil).

1. Existem muitas religiões de matriz afro no Brasil além do candomblé e da umbanda.

Em sua pesquisa de doutorado, o professor Juarez Xavier as dividiu em três categorias:

Afro-brasileiras, que são aquelas de matriz africana que passaram por algumas mudanças quando chegaram ao Brasil. Como exemplo temos o candomblé de caboclo, praticado no Recôncavo Baiano.

Brasileiras, que foram criadas no Brasil, mas que possuem influência afro. Entre elas está a umbanda, síntese de diversas matrizes (africana, indígena e kardecista).

Afrodescendentes, que reivindicam suas raízes afro, pois mantiveram os mesmos processos de organização das religiões da África. Podemos citar a tradição iorubá (ketu e nagô), tradição bantu (bate folha) e jejê (terreiro do Bogum).

Porém Xavier deixa claro que é difícil dizer exatamente quantas são. “Essa divisão é didática e reducionista, pois a diversidade é muito maior do que possa imaginar ‘minha pequena’ pesquisa”, explica.

2. Nem tudo é “macumba”.

Macumba, diferentemente do que muitos acreditam, não é o mesmo que “magia negra”. Existem duas explicações para a origem da palavra. A mais conhecida e popular é de que se trata do nome dado a uma árvore da cultura banto aproveitada para a confecção de um instrumento utilizado nos rituais dessas religiões.

A outra explicação é dada por Pereira: “A origem do termo se dá no contexto religioso anterior à fundação da Umbanda e em paralelo ao seu primeiro período, quando as manifestações religiosas periféricas e de influência africana aconteciam nos chamados grandes terreiros de Macumba Carioca, no Rio de Janeiro.

Os rituais se aproximam da Umbanda pela maleabilidade litúrgica e pelo perfil inclusivo, somando novos valores de diferentes culturas num sincretismo “bricolado”. Com o tempo, as “Macumbas Cariocas”, ou simplesmente cultos afro-brasileiros cariocas, também passaram a aderir às práticas e ao modelo ritual-litúrgico umbandista. Outras vezes, assumiram apenas a denominação sem sentirem necessidade de alteração ritualística”.

3. E, geralmente, chamar de “macumbeiro” é uma ofensa.

Pinho explica que há “um esforço em desqualificar as religiões de matriz africana e reduzi-las a algo depreciativo. Então, o termo tem sido utilizado genericamente para denominar essas religiões”. Para Xavier, “por ser genérica, ele reproduz uma visão negativa dessas tradições e, por essa razão, é ofensiva”.

Mas Pereira lembra que algumas pessoas utilizam o termo “macumba” ou “macumbeiro” para se nomearem numa forma de reafirmar as origens de sua religião e responderem a quem utiliza a expressão para ofender

4. Oferenda é um gesto de gratidão aos deuses.

Talvez você já tenha ouvido falar da oferenda por outros nomes como “macumba” e “trabalho”. Pelucio explica que as oferendas são trabalhos, “mas de transformação e mobilização de energias”.

As oferendas também podem ser consideradas como um gesto de gratidão e um presente aos orixás (deuses) e entidades espirituais. “Geralmente são feitas para consagrar desejos ou o atendimento deles, que podem ser relacionados a saúde ou relacionamentos, mas focados no amor e não no aprisionamento de outra pessoa”, esclarece.

5. Por isso, dizer “chuta que é macumba” é extremamente desrespeitoso.

Oferenda é um símbolo muito importante para estas religiões, tal como a cruz é para o cristianismo. Pelucio lembra que da mesma forma que não se chuta a cruz por ser importante para inúmeras pessoas, não se deve fazer o mesmo com as oferendas, que são gestos de amor.

6. Orixá não é signo.

Não há relação entre orixás (deuses das religiões de matriz afro) e os signos astrológicos, por mais que ambos trabalhem a partir dos arquétipos. Apesar das similaridades, religiões de matriz afro não são astrologia.

Pereira enfatiza que “revelar o seu orixá não é simples e que também é uma questão ancestral”. Por isso, de nada adianta pedir para qualquer pessoa que frequenta essas religiões dizer qual é o seu orixá.

Além disso, ela explica que descobrir qual orixá “rege sua cabeça” é uma questão de merecimento e a revelação disso é feita por pessoas escolhidas para tal nos rituais religiosos. Lembrando que a revelação do orixá tem uma necessidade de desenvolvimento do médium ou de quem busca a consulta. E isso se dá tanto pela busca da cura ou do encontro com a sua missão.

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7. Exú não é demônio.

Muitas pessoas relacionam Exú ao demônio de modo equivocado. Esse processo de degradação da imagem dele se deu por missionários cristãos quando chegaram à Nigéria, Togo e Daomé. Na visão de Xavier, essa foi uma estratégia de dominação. Ele explica por quê:

“Pelo fato de sua representação ser o falo (símbolo da fertilidade cósmica e da criação), ele foi identificado como o diabo, da tradição judaico/cristã/islâmica. Mas ele não tem nada que o identifique como o demônio das tradições ocidentais”.

8. Exú é, sim, uma figura de extrema importância na relação entre deuses e humanos.

“No Candomblé Exú é Orixá, um Deus africano é responsável pela comunicação dos seres, entre outros atributos que vão se distribuir em suas qualidades. Já para a Umbanda, ele é um espírito humano à esquerda da religião que, mesmo estando nas ‘trevas’, trabalha em favor do bem”, esclarece Pereira.

Para Xavier, Exú não tem equivalência ao diabo cristão, pois é mais sofisticado, humanizado, sagrado e, acima de tudo, mais reverenciado. Santos explica que Exú é uma das figuras que mais se assemelham aos homens por estarem entre nós. “Daí vem o gosto dele por bebidas e piadas. Ele é mais humano, tem características positivas e negativas como todos nós”.

9. Não fazemos pacto com o demônio.

“Até porque não acreditamos na existência dele, ou seja, é impossível fazer um pacto com o que não acreditamos”, revela Santos. É importante ressaltar que não há um correspondente ao diabo nas religiões de matriz afro, pois acredita-se que que cada pessoa é de uma vez só o bem e o mal.

10. Muitas destas religiões de matriz afro seguem os mesmos princípios de outras religiões, que todos conhecem.

Candomblé e Umbanda são religiões monoteístas, mas há algumas diferenças.

“A Umbanda é monoteísta e acredita-se em um Deus, que pode ser chamado de diversos nomes. O mais comum é Olorum, Tupã, Zambi ou só Deus mesmo.

Na Umbanda também presta-se o culto aos Orixás, que de uma maneira muito simplificada são as qualidades de Deus individualizadas e manifestadas por meio dessas divindades”, explica Pereira.

“Já o Candomblé, eu diria que é uma religião que se organiza de forma diferente das demais religiões. Juarez tem uma definição muito boa para isso. Ele fala que o Candomblé está pra além do sentido de “religare”, pois, nunca existiu uma ruptura entre os povos africanos e suas divindades”, comenta Roger Cipó.

No Candomblé também há a figura do Olorun que quer dizer “Senhor do Céu”. E os Orixás são divindades ancestrais da natureza.

Nesta estrutura há uma semelhança com o catolicismo, que é monoteísta, porém cultua santos. Na Umbanda, Jesus também é cultuado e reverenciado. Para o Candomblé, ele é apenas uma figura histórica.

11. Não acreditamos na Bíblia.

“A gente não acredita na Bíblia, pois nosso sagrado está na natureza, nossos ensinamentos estão no exercício da vida mediúnica saudável e no relacionamento com os orixás e guias”, revela Pereira.

12. Não ficamos possuídos em nossas cerimônias religiosas.

“O ato de incorporar uma entidade consiste em fazer a conexão entre os chakras do médium e os do guia (espíritos humanos desencarnados). Desta forma, no momento da incorporação nosso espírito continua habitando o corpo físico sem que haja a necessidade de se ceder esse lugar para que entidade possa trabalhar (sem possessões). Você ainda estará ali. Consequentemente, sua consciência também. Quanto mais concentrado estiver, maior será o aproveitando dessa experiência.

Já no Candomblé (mais ortodoxo), espírito humano não pode se manifestar e a manifestação dos orixás acontece no Ori (cabeça da pessoa). O transe espiritual no Candomblé então se dá (com seu Orixá pessoal) de dentro para fora. Sendo assim, de uma maneira geral, os candomblecistas não praticam a incorporação, ou seja, a mediunidade não é um precedente. Entretanto, também não é uma possessão, é como se o Deus que mora em cada um viesse, por meio do transe, dançar com seus filhos”, esclarece Pereira.

13. Nem todos os terreiros são adeptos do sacrifício de animais.

A Umbanda, de maneira geral, não tem como precedente o sacrifício de animais. Já para o candomblecista, o abate religioso é um rito próprio da religião e, como via de entendimento, se assemelha à santa ceia.

14. E quando são, os animais mortos são servidos para alimentação nas cerimônias.

“Os animais são abatidos para consumo dos filhos de fé e demais frequentadores. Este é um momento especial, onde, segundo a crença, os orixás e humanos partilham da comida abençoada.

O sangue e as partes impróprias para consumo geralmente são utilizadas nos assentamentos (locais do terreiro onde ficam objetos e símbolos do orixá, mantendo a energia dele ali). Mas o abate religioso de animais é humanitário e não maltrata o animal.

O animal que servirá a ceia é tratado durante um longo período. Ele recebe banhos de ervas maceradas e são entoados cantos a ele.

Esse abate não é indiscriminado e ocorre em ocasiões especiais de festividades do terreiro. Qualquer outra coisa que podemos ver nas ruas, como oferendas, não fazem parte da ritualística do candomblé”, esclarece Pereira.

15. Não invadimos seu espaço, então não invada nosso terreiro.

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Fonte: Publicado por Aline Ramos em BuzzFeed Brasil, 21/09/2017.

Imagem de capa: Candomblé (1983), óleo sobre tela de Carybé.

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