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Os evangélicos pensam como a bancada evangélica?

por DW Brasil*

Ideias progressistas de um pastor do Rio geram debate sobre pluralidade existente entre os milhões de brasileiros evangélicos.

O Censo Demográfico de 2010 apontou que 42,3 milhões de brasileiros se declaravam seguidores de igrejas evangélicas. Em apenas dez anos, essa parcela da população aumentou 61,45%. O crescimento do número de templos e fiéis, em ritmo acelerado, foi seguido pelo fortalecimento político das instituições vinculadas a essas vertentes religiosas.

Hoje, 199 dos 513 parlamentares da Câmara dos Deputados integram a Frente Parlamentar Evangélica (FPE). A atuação da bancada evangélica, como também é conhecida, notabilizou-se pela defesa de posições conservadoras. Temas como a legalização das drogas e do aborto, além da discussão sobre direitos LGBTI enfrentam forte rejeição nesse grupo.

Pela visibilidade desses parlamentares, imagina-se que a população evangélica reflita esse perfil. Mas o pastor Henrique Vieira, da Igreja Batista do Caminho, rebate essa tese.

“Do ponto de vista da representação institucional, prevalece um conservadorismo comportamental associado a movimentações muito fisiológicas”, afirma. “Em termos de base, é tudo mais difuso e complexo. Pela minha experiência e observação, vejo que há uma maioria conservadora em termos morais. Ainda assim, não colocaria como unanimidade de jeito nenhum”, acrescenta.

O pastor batista é filiado ao PSOL e foi vereador em Niterói, cidade vizinha ao Rio de Janeiro, entre 2013 e 2016. Mesmo sem mandato, Vieira está em evidência pelo alcance de vídeos com seus discursos em atos políticos e outros gravados para o movimento #342Artes, organizado pela empresária musical Paula Lavigne.

Integrante da FPE, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) critica Vieira por falar em nome dos evangélicos. “Esse pastor não tem representatividade alguma, nem na política, nem no meio evangélico. Aliás, sequer tem fiéis”, disse.

Pastor da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, liderada pelo bispo Silas Malafaia, Cavalcante está em seu primeiro mandato e foi um dos 18 parlamentares da Câmara a ter 100% de presença nas votações na Casa em 2017.

Embora tenha sido eleito pelo PSD, o pastor migrou para o DEM quando seu partido anterior sinalizou apoio a Dilma Rousseff no processo de impeachment – posição que acabou sendo revista. Em seu mandato, ele vem se dedicando à defesa de pautas como a “Escola sem partido” e o “direito à vida”, contra o aborto.

Recentemente, ganhou visibilidade por um projeto o qual prevê a revogação de um decreto do ex-presidente Lula que concedeu o Grande Colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul ao presidente sírio, Bashar Al-Assad, em 2010.

Para apresentar a diversidade de posições existente entre os evangélicos, a DW Brasil convidou os dois pastores a exporem suas posições sobre temas em evidência no debate público.

Criminalidade

Henrique Vieira: “Costumo dizer que sempre existem respostas simples para perguntas complexas. Invariavelmente, estão erradas. Ante o medo, propostas como pena de morte, redução da maioridade penal e intervenção federal na segurança pública são simplórias e não atendem à complexidade da violência. Apenas trabalham no campo da sensação de segurança momentânea, que, muitas vezes, tem um jogo de poder por trás. Não aposto no caminho da repressão.

Do ponto de vista estrutural, é preciso enfrentar a violência da desigualdade social com políticas públicas de garantia de direitos e distribuição de renda. Na própria segurança, defendo a legalização e regulamentação das drogas, a desmilitarização da polícia e um controle rígido, integrado e inteligente do comércio de armas e munições no Brasil.”

Sóstenes Cavalcante: “Há três pilares para voltarmos a ter uma segurança pública de qualidade, a começar pela valorização do núcleo familiar. Sua desestrutura está levando a sociedade a perder limites e disciplina. O segundo é o abandono do patriotismo. Boa parte da população tem vergonha de ser brasileira hoje, lamentavelmente.

Deixamos esse valor de lado e só o reservamos para alguns períodos, como a Copa do Mundo. Por fim, a educação em tempo integral, que alguns colocam em primeiro lugar, embora eu prefira não hierarquizar. Seria outro reforço à prevenção na segurança pública.”

Direitos LGBTI

Henrique Vieira: “A cada 28 horas, um LGBTI é assassinado no Brasil por motivo de ódio. É o país que mais mata, em termos proporcionais e absolutos, trans e travestis: 50% dos assassinatos cometidos contra trans e travestis no mundo acontecem aqui.

Como discípulo de Jesus, que entende o amor como algo absolutamente central e essencial na experiência de Deus, tenho o dever de estar ao lado dessas pessoas, respeitando sua integridade física e emocional, sua liberdade de ser.

Algum fundamentalista vai dizer: ‘a Bíblia condena’. Depende de como você lê a Bíblia. É possível pegar um texto bíblico isolado e fazer doutrina, como já aconteceu, para justificar a escravidão ou naturalizar e defender o nazismo. Muitas vezes, o fundamentalismo fica tão preso ao dogma, à letra, que a pessoa perde sensibilidade. Não consegue mais sentir a dor do outro, ou sequer reconhecer que essa violência existe.

Eu leio a Bíblia a partir de alguns critérios: contextualizando o texto historicamente, tendo Jesus Cristo de Nazaré como filtro de interpretação e reconhecendo que a dignidade humana é fator fundamental para eu lê-la e buscar princípios eternos.”

Sóstenes Cavalcante: “Tenho um posicionamento, primeiro, constitucional. Há outras minorias no Brasil que, lamentavelmente, são excluídas, por a militância do governo de esquerda ter sido muito intensa pró-LGBTI nos últimos anos. Gostaria que fossem tão lembradas quanto os LGBTI. Não se fala mais nos ciganos no Brasil, assim como nos judeus, que sofreram o Holocausto. Eles também merecem prioridade no debate.

Às vezes, esse discurso das minorias acaba ganhando um tom exagerado e desnecessário. No caso do grupo LGBTI, essas lutas tão bem encampadas por eles estão aumentando o tom de agressividade, o que eu lamento muito. O exagero acaba produzindo uma cisão maior nos contrários. Isso não é salutar nem para eles e muito menos para aqueles que radicalizam o discurso por conta de sua luta.”

Política de drogas

Henrique Vieira: “Eu, como cristão, estou interessado em vida. Esta foi a proposta de Jesus. ‘Eu vim para que as pessoas tenham vida, e vida em abundância.’ Está registrado no evangelho de João. A política de criminalização só gera morte. Tem mais gente morrendo de tiro do que de overdose.

Legalizar e regulamentar significa, na verdade, desarticular o tráfico internacional de drogas ilícitas, tirar do campo do crime e trazer para o campo da saúde e da educação. Dessa forma, é possível interromper essa verdadeira guerra, que, no Brasil, significa massacre de negros e pobres todos os dias.

Cada pessoa vai ter seu discernimento para encontrar um limite e fazer suas escolhas. Eu não posso interditar, arbitrar – acho que o Estado não tem esse dever, até porque a lógica da interdição não reduz –, mas não romantizo o uso.

Reconheço que existe um uso abusivo e que isso precisa ser trabalhado com muita consciência, responsabilidade e exercício de autonomia, tendo a saúde física e emocional como critério. Tudo aquilo que gera vício tende a ser destrutivo. Sendo assim, evidentemente, não é saudável.”

– Sóstenes Cavalcante: “Se a legalização ou descriminalização resolvesse o problema das drogas, o Brasil não seria um país campeão em tráfico de tabaco. Esta é a maior prova de que não resolverá o problema. Historicamente, a legalização fez aumentar o consumo nos primeiros anos seguintes em países que legalizaram. Ou seja, iríamos agravar um problema de saúde pública.

Na gestão do José Serra no Ministério da Saúde, decidiu-se encarar o problema do tabaco. Era muito comum as pessoas fumarem em ambientes fechados. O Serra encerrou esse problema com conscientização, prevenção, campanhas publicitárias na televisão e projetos de lei que autorizaram a inserção de imagens educativas nos maços de cigarro. Assim, conseguiu reduzir drasticamente o consumo no Brasil e mudar o conceito cultural.

Para mim, a questão das drogas passa, justamente, pelos pilares da prevenção e conscientização, que mostraram resultado na questão do tabaco. Fazendo isso, poderemos reduzir fortemente o consumo de drogas ilícitas e a violência decorrente desse uso.”

Texto de João Soares, publicado no site da Deutsche Welle, emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.

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