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O que fazer para que o azeite seja suficiente para nós e para vós?

No dia 06 de novembro de 2017 uma jovem de 16 anos foi assassinada dentro de uma Escola Estadual em Alexânia, estado de Goiás, entorno do Distrito Federal (intencionalmente não quero escrever o nome dela). Ela foi assassinada por um também jovem de 19 anos (outra vez não quero escrever o nome) que segundo investigações policiais, planejou o crime durante um ano.

O que o jovem alegou para o assassinato? Ele ficou com ódio dela porque ela não quis namorá-lo. A jovem estava na escola no momento do crime. O responsável pelo homicídio pulou o muro para matá-la com 11 tiros, a maioria no rosto. Pela quantidade de balas desferidas, percebe-se que era muito ódio.

Eu fiquei profundamente incomodada pelo modo que esse fato foi veiculado nas redes locais de TV. Fala que sobressaía nas entrevistas televisivas feitas a familiares e pessoas amigas: “Ela era uma moça da igreja; não merecia ser assassinada”. Eu me peguei pensando: “E se não fosse uma moça da igreja?”

Peguei-me pensando ainda nos discursos contrários (e justapostos) a esse que justificam o extermínio da juventude/adolescência  negra das periferias – quando um jovem negro da periferia é assassinado, a justificativa é: “Ele tinha envolvimento com o tráfico de drogas; era uma morte esperada, pois era um bandido”. Em síntese, não era um rapaz da igreja.

A comunidade de Mateus nos conta que o Reino do Céu será como dez moças (virgens, damas de companhia, pajens) que pegaram suas lamparinas de azeite e foram ao encontro do noivo. Das dez, cinco agiam com sabedoria e cinco não.

As cinco sábias quando pegaram as lamparinas para irem ao encontro do noivo, levaram vasilhas de azeite consigo, pois caso o noivo demorasse, elas teriam azeite para manterem as lamparinas acesas no tempo da espera. Atitude não escolhida pelas cinco moças descuidadas. Elas foram esperar o noivo somente com as lamparinas, sem o azeite de reserva.

De fato, o noivo demorou a chegar. E todas dormiram enquanto o esperavam. No meio da noite acordaram com um grito: “o noivo está chegando! Vão ao encontro dele!” As dez se levantaram e pegaram as lamparinas. As que não levaram azeite reserva pediram um pouco de azeite às outras, pois perceberam que o fogo das suas lamparinas estava se apagando. As que levaram azeite responderam: “não podemos fazer isso, porque se o fizermos, o azeite poderá faltar para nós e para vocês. É melhor vocês saírem para comprar”. Enquanto elas foram comprar o azeite, o noivo chegou. As moças que estavam preparadas entraram com o noivo para a festa de casamento e a porta se fechou. Quando as outras chegaram, bateram na porta e pediram que o noivo abrisse.

Ele respondeu que não as conhecia e que é preciso vigiar, pois não se sabe o dia e nem a hora que o noivo irá chegar. (Mt 25, 1-13)

Algumas inquietações relacionadas a essa parábola:

Ela não se parece com a nossa cultura, pois aqui quem se atrasa para a festa de casamento é a noiva.

Por que nessa parábola a comunidade de Mateus conta que as 5 moças sábias mandaram as outras cinco imprudentes irem elas mesmas comprar o azeite? Por que a escolha pela compra e não do azeite colocado em partilha conforme narrativa da “multiplicação dos pães”? Por que na Bíblia é muito comum se utilizar da representação da mulher para dar exemplos de alguém sem juízo, imprudente?

O que é ser sábia e o que ser tola para a comunidade de Mateus?

A intenção aqui é fazer perguntas que levarão a outra pergunta.

Entre as inúmeras possibilidades, essa parábola faz refletir que a sabedoria está relacionada a práticas comunitárias que cuidam com sensatez do azeite responsável para que as lamparinas permaneçam acesas, enquanto aguarda-se o noivo que está por aí (solto na bagaceira, circulando nos espaços), mas não chega conforme os nossos critérios de hora e tempo.

Atualmente, é muito comum vermos lamparinas como objeto decorativo. Ssomente a lamparina sem o azeite, óleo ou querosene; sem o combustível que a mantém acesa. Em termos práticos, para que serve uma lamparina sem azeite? Se escolhermos que ela seja uma mera peça decorativa, será. Porém, diante da urgência da realidade (preparar-se para fazer parte da festa com o noivo que está no nosso meio e chega sempre a qualquer momento).

De que adianta uma lamparina sem azeite?

Esperar sem se comprometer, esperar por esperar, sem intencionalidade, não contribui para que as lamparinas permaneçam acesas. É feito o homem que construiu a casa sobre a areia. Fazer por fazer, sem se comprometer com determinado projeto de vida…

É preciso cuidar das bases que se constrói algo, cuidar do azeite, é preciso ser azeite.  A sabedoria popular nos ensina que devemos cuidar para que o azeite sempre tenha reservas, senão ficaremos na escuridão e o medo nos paralisará.

Nos impedirá de dar passos.

Quais são as nossas reservas de azeite (instrumentos para a luz) no contexto desses discursos e práticas que justificam o feminicídio e o extermínio da adolescência/juventude negra da periferia?

Por fim, lamparina, azeite, óleo, querosene…

Talvez sejam realidades comparativas que não façam muito sentido para as juventudes/crianças/adolescentes do mundo urbano. E, em muitos lugares, nem do mundo rural. Assim, é preciso perguntar, escutar desses grupos sobre as reservas comparativas que refletem nas suas práticas conscientes e comprometidas. Enquanto ensaiam, realizam ações à luz do Mundo Novo, para que o azeite seja suficiente para nós e para vós.

Fonte: Texto de Múria Carrijo Viana, 11/11/2017.

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