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CEBI-PE: Curso de Formação trabalha as religiosidades de matriz africana e indígena

Nos dias 20 a 22 de outubro de 2017, o CEBI Pernambuco promoveu em Caruaru, a segunda etapa do Curso de Formação de Assessores/as em Leitura Popular da Bíblia. O tema do encontro foi Bíblia e Religiosidade dos Povos Originários de Matrizes Africanas e Indígenas.

O grupo era composto por membros das igrejas Metodista, Batista, Católica Romana e Anglicana, bem como pessoas de tradições evangélica e católica que não se identificam mais com a instituição/igreja. O Grupo de palestrantes foi formado por pessoas que professam a fé nos cultos da Jurema Sagrada, do Candomblé, do Cristianismo Episcopal Anglicano e da espiritualidade indígena. Éramos ao todo 22 cursistas e cinco assessores/as, dentre os quais: 15 mulheres e 11 homens, sendo sete jovens.

Diálogos

Lilian Conceição da Silva, doutora em teologia e reverenda da Igreja Anglicana no Brasil, facilitou, no primeiro momento, o estudo bíblico do texto de Atos dos Apóstolos 11, 26-40 e nos brindou com os referenciais e instrumentais para a análise de textos com viés da leitura bíblica feminista e negra.

Tivemos ainda duas rodas de conversa:

  • a primeira tratando das religiosidades de matrizes africanas e indígenas. Foi presidida por Lilian Conceição, tendo como apresentadores a Yabassê Vera Baroni, do terreiro de candomblé Ilê Obá Aganjú Okoloyá (Terreiro de Mãe Amara), que nos brindou com uma defesa enfática da liberdade religiosa e denunciou com veemência as perseguições sofridas pelas nações de matrizes africanas.

Em seguida, não menos enfático, falou o sacerdote juremeiro e candomblecista Alexandre L´Omi L´Odò, historiador e mestre em ciências da religião, juremólogo, como ele mesmo se define, enfatizou que a Jurema Sagrada é religiosidade indígena. Alexandre explicou que a Jurema Sagrada traz como elementos definidores o cachimbo, o chocalho e a bebida feita das raízes, cascas e folhas da jurema.

Religiosidades dos índios nordestinos

A jurema preta (mimosa hostilis), a qual a Jurema Sagrada está intimamente imbricada,  é uma árvore típica do bioma Caatinga. Entretanto, o culto da Jurema também encontra-se presente em muitos terreiros de Candomblé e da Umbanda, presentes no Nordeste Brasileiro, e e já se espalha para outras regiões do Brasil.

  • A segunda roda de conversas, apresentada no domingo, foi presidida por Helivete Ribeiro, Pastora da Igreja Batista de Bultrins. O tema foi os povos indígenas de Pernambuco e teve como palestrantes Michele Guerreiro, candomblecista, cientista social e doutoranda em Educação das Relações Étnico Raciais.

Diversidade Religiosa

Michele abordou diversos aspectos do universo social e religioso das tribos indígenas de Pernambuco, enquanto Erika Gualberto, indígena, historiadora, mestra em História e graduanda em Direito, fez um relato histórico dos aldeamentos indígenas que deram origens a diversas cidades do interior nordestino. Além disso, trouxe a questão das migrações das tribos e suas guerras intertribais, enfatizando o fato de como o colonizador se aproveitou das diversas inimizades entre as tribos para enfraquecer a resistência indígena.

O encontro foi profundo, tanto no que diz respeito aos conhecimentos que os facilitadores têm sobre suas próprias vivências religiosas e de lutas de seus povos, como no testemunho de vida pessoal de cada uma das pessoas palestrantes.  Foi um momento profético, onde se denunciou a intolerância e a violência sofrida pelos membros das religiões afro-ameríndias, e se anunciou a possibilidade de convivência respeitosa e amorosa entre todas as pessoas.

Como oração, na manhã do domingo, os jovens Milka e Kinno (Igreja Batista) puxaram o mantra de Taizé: “… é amor, arrisquemos viver por amor, …. é amor, Ele afasta o medo”. A Divindade foi cantada por todas as pessoas presentes com todos os nomes que nos vieram a memória: Javé, Orumilá, Tamain, Krishna, ….

Durante a nossa avaliação perguntamos: O que levamos daqui e o que vamos fazer com isto?

Ouvindo as respostas, podemos resumir dizendo:

Levamos do encontro o conhecimento de que o amor é uma atitude prática de convivência respeitosa e, com esta certeza, saímos fortalecidos para buscar a construção de uma sociedade para as pessoas se todas as manifestações de vida.

Na oração de envio dançamos um Toré de enfrentamento que nos convida para lutar: “Pisa ligeiro, pisa ligeiro, quem não pode com a formiga não assanha o formigueiro”. E, fomos abençoados por um canto de Oxalá em Yorubá, que nos deseja Axé.

O Curso de formação continua

O curso ainda prevê outras duas etapas onde abordaremos as temáticas de gênero, justiça socioambiental ou cidadania política. As datas de realização da próxima etapa são: de 20 a 22 de abril e 12 a 14 de outubro (ou 2 a 4 de novembro) de 2018.

Seguem alguns relatos dos participantes para exemplificar a riqueza da vivência desta experiência interreligiosa:

Há um ditado chinês que diz que: se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando um pão, ao se encontrarem, eles trocam os pães; cada um vai embora com um. Porém, se dois homens vêm andando por uma estrada, cada um carregando uma ideia, ao se encontrarem, trocam as ideias. Cada um vai embora com duas. Vivenciamos este provérbio no ultimo final de semana (20 a 22 de outubro de 2017), no Curso de Leitura Popular da Bíblia: religiosidade dos povos originários.
Observar o que diz o apóstolo Paulo em Romanos 12 versículo 2: “não vos conformei com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar…” passa com certeza por experiências como esta.
O aprendizado repassado pelos palestrantes e cursistas nos deu um novo modo de ver o mundo.
(
Benedito Ramos, 53 anos, Igreja Católica Romana)

Esse curso foi um divisor de águas em minha vida, me fez resgatar memórias adormecidas, de meus antepassados, meu avô paterno índio, minha avó materna negra, povos originários. Por muito tempo tive vontade de investigar a história dele e sua irmã que vieram em uma embarcação e foram abandonados e adotados por uma família aqui em Petrolina. E também a ver o diferente com um olhar mais amplo, respeitando suas escolhas, sem querer adotar: no discurso o amor, na mão a espada. Isso me acendeu a vontade de buscar mais conhecimentos.
(
Rosileide Marinho, 53 anos. Igreja Católica Romana)

Participar de um encontro em um curso inter religioso da religiosidade dos povos originários da negritude e ameríndios é uma oportunidade ímpar de ver a face de Deus e o sagrado se transfigurando de varias formas culturais na plenitude da sua essência. É um mosaico de uma arte fé que embeleza cada vez mais alegria de viver uma espiritualidade ecumênica celebrando o Deus da vida em harmonia com todos os povos na diversidade cultural e histórica dos “religares” (das religiões). Para mim foi de uma experiência de volta as fontes das ciências primitivas, sapiências de águas límpidas, que emana vida, amor, liberdade, alteridade e identidade humanitária de onde viemos, dos gametas das ancestralidades da fé.
(
David Silva, 29 anos. Tradição Evangélica)

O Cosmo/universo nos promoveu a amizade para vislumbrarmos a Vida na sua diversidade. Junt@s na luta vamos defender a dignidade das pessoas e da criação na construção da ciranda irmanada do Bem Viver. Esse fim de semana foi um momento ímpar de refontização, voltar às origens, reconectasse com a ancestralidade e perceber o quanto é mais forte e bonito juntarmos nossas diferenças formando um mosaico colorido, com fendas que pulsa a vida, para enfrentarmos o recrudescimento do mundo aos fundamentalismos.
(
Ulisses Willy Rocha de Moura, 38 anos, tradição Católica)

Em mim sempre existiu o anseio pela autonomia do ser. E por muito tempo me sentia reprimida pelos dogmas impostos por alguns líderes religiosos, mas este anseio por liberdade nunca deixou de estar vívido em meus pensamentos. Esses dias, no encontro do CEBI, pude experimentar a real liberdade junto com pessoas queridas que compartilham do sentimento que está acima de nossas diferenças e crenças: o amor!
A sensação foi de conexão de almas com a essência do Eterno que está em tudo. Conhecer um pouco das crenças dos povos originários (negros e indígenas) a partir da vivência e escuta qualificada, também das falas dos representantes destas culturas, perceber elementos de fé no Divino que temos em comum e que são concebidos de formas diversificadas a partir da experiência humana com o transcendente, tudo contribuiu para uma maior abertura ao conhecimento sobre a vida. Sem sombra de dúvida estou levando comigo grandes lições dessa experiência de viver o amor na pluralidade.
(
Milka Dayanne da Silva Araújo, 26 anos – Igreja Batista)

Por fim, nossos agradecimentos a todos e a todas palestrantes que nos brindaram com suas ricas experiências de vida, também a toda equipe do CEBI Pernambuco que incansavelmente fomenta a Leitura Popular da Bíblia; Também nossos sinceros agradecimentos à Missão Franciscana (MZF) que colaborou financeiramente com este curso e possibilitou que mais pessoas tivessem acesso à uma leitura libertadora e ecumênica da Bíblia.

Fonte: Texto e fotos enviados por José Josélio da Silva e Sílvia Maria de Souza, Coordenação do CEBI Pernambuco, 27/10/2017.

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