Espiritualidades

Intolerância religiosa: respeito aos terreiros!

Intolerância religiosa: terreiros são atacados na Baixada Fluminense

Rio de Janeiro – Nos últimos dias, uma série de vídeos com cenas de intolerância religiosa têm circulado nas redes sociais. Neles, criminosos obrigam lideranças de religiões de matriz africana a destruírem, com as próprias mãos, seus templos e objetos de culto.

Um dos vídeos divulgados pelos criminosos mostra uma mãe de santo sendo ameaçada com um taco de beisebol e, ainda, sendo obrigada a quebrar imagens religiosas. Enquanto isso, um dos envolvidos diz sarcasticamente “quebra tudo, apaga vela, rebenta as guias toda”.

Veja o vídeo do jornal O Dia > Intolerância: Mais um ataque a terreiro religioso

Por mais absurdo que pareça, ações como essas encontram apoio por parte da sociedade. Em alguns sites, por exemplo, pessoas chegaram a deixar comentários de ódio como “Deus usa quem Ele quer, como Ele quer e quando quer”, deixando transparecer que o assassino poderia estar sendo “usado” por Deus para dar cabo a essa chacina cultural.

O CEBI atua na promoção da diversidade religiosa e do diálogo ecumênico. Nos colocamos de forma contrária e combativa frente à essas atitudes racistas, moralistas, conservadoras e fascistas.
Leia a reflexão do historiador e teólogo Fábio Py, frente aos acontecimentos dos últimos dias:
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Contra a territorialização evangélica de qualquer lugar

As cenas de traficantes da Região da Ilha do Governador, do Morro do Dendê, em um vídeo gravado por eles mandando o povo de terreiro destruir seus próprios símbolos são para amedrontar. Contém imagens e sons de uma apologética do medo patrocinada pela arma na mão. Sobre isso não se pode relativizar. Mesmo mediante as muitas imagens de violências que chegam pelos noticiários, pelas mídias, a ação dos traficantes armados mandando os próprios povos de terreiros destruírem seus templos e seus ícones é simbólica. Também mostra uma perspectiva de higienização territorial dessa nova onda de evangélicos. Pois, não basta destruir os espaços religiosos. Devem obrigar, com os fuzis em punho, a que os próprios membros das religiões afro destruam seus símbolos, de seu centro do mundo. No ato filmado tem-se uma violência dobrada, quiçá triplicada: está repleto de muitas expressões do sadismo territorial-religioso que os fundamentalismos trajados na linguagem da batalha espiritual atualizam para os dolorosos nervos expostos nas favelas.

Mesmo com a confusão da quantidade de imagens e notícias, penso que se deve dizer que como cristão de corte protestante evangélico um ato como esse de violência extrema pouco tem a ver com o cristianismo. Para isso, lembro um pouco das Escrituras Sagradas: Jesus não era cristão. Ele era judeu! Logo, assim, para época, não construía uma religião “pura”, “sem-mancha”. Seu seguimento SEMPRE dialogou com os demais ritos e culturas ao redor. Ele SEMPRE foi permeado e utilizou elementos de outras tradições religiosas, como, por exemplo, o rito inicial nas águas, orações solitárias, a escolha de pessoas para seguir sem moradias… Tudo isso, e até a própria noção de ressurreição não é originalmente do ambiente cristão. Portanto, a ideia de pureza religiosa que impregna essa territorialização evangélica das favelas do Rio é uma expressão racista do cristianismo. Ela que é uma noção que data do inicio do século vinte provinda do ambiente americano chamado de fundamentalismo religioso. Assim, assumindo a diversidade que forma o cristianismo e o ajuda a desenvolver até os dias de hoje, reconhecemos que é vergonhoso assistir a cenas da destruição dos locais de culto afro pelos chamados “traficantes de Jesus”. Pois a aceitação do outro é uma prática que perpassa importantes textos das Escrituras cristãs, e que se faz presente em toda história do cristianismo.

Além disso, uma ação como essa vai contra a própria ação política dos protestantes evangélicos desde a formação do Brasil. Eles apoiaram a diversidade religiosa e de culto. Apoiaram a diversidade porque no passado eram mais ainda uma minoria no país. Portanto, a garantia desse dispositivo legal seria estratégica para sua continuidade e até para a propagação das celebrações evangélicas. Nesse sentido, é ainda mais alarmante a percepção de que existem pastores que incentivam tal territorialização da violência contra os povos de terreiro. Sim! Existem religiosos que vêm auxiliando os traficantes contra qualquer grupo ou ser humano de confissão diferente da dele, principalmente, de ritos afro. Só para dizer: esse cristianismo virulento, intolerante, não representa a postura histórica dos protestantes evangélicos. Muito menos dá a tônica de todo o segmento. Dão essa impressão porque suas violências chamam atenção dos canais e mídias. O que não é por menos, claro.

Assim, marcando posição, diz-se que se é contra qualquer territorialização evangélica levada pelos “traficantes de Jesus” nas comunidades da Ilha do Governador, Rio de Janeiro. Sua perspectiva de pureza religiosa violenta, racista, só mancha mais de sangue as favelas do Rio. E, o que é menos importante (do que o ambiente de violências nas favelas), mancha ainda mais o olhar sobre o segmento evangélico no país. E respinga no rosto do segmento mais dialogal e aberto do cristianismo, que está mais preocupado com teorias e leituras, sem se interessar em sujar a mão na construção pedagógica de alternativas no dia-a-dia desse segmento tão largo que cresce exponencialmente nas últimas décadas.

Fonte: Informações do CONIC e agências + publicação de Fabio Py na página Novos Diálogos, 14/09/2017.

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