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As guardiãs do saber culinário do grupo Mbyá-Guarani

Os ensinamentos sobre a culinária do grupo Mbyá-Guarani começam na infância por meio de brincadeiras, e seguem até a vida adulta através de observação e experimentação compartilhada.

Toda influência que vem de fora da aldeia não foi suficiente para mudar radicalmente os elementos da tradição deste povo. À frente dessa resistência estão as mulheres: guardiãs da língua, dos saberes sobre alimentos, plantas medicinais e modos de fazer.

O documentário orérembiú eteí (nossa própria comida), retrata a rotina de preparo da alimentação pelas moradoras da aldeia vy’a, em Major Gercino, na Grande Florianópolis, e reflete sobre a importância desse ritual na preservação da identidade do grupo.

“O vínculo do grupo Mbyá-Guarani com a alimentação está diretamente relacionado ao território, à cosmologia, aos rituais e às práticas relacionadas à saúde. A continuidade da agricultura Guarani é essencial para a permanência da agrobiodiversidade e da segurança alimentar do grupo”, afirma a diretora Vandreza Amante.

Vandreza explica que as imagens foram captadas livremente de acordo com a narrativa proposta pelo grupo. Em entrevista, a jornalista e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da FURB contou sobre a experiência na aldeia e as dificuldades encontradas pelo grupo para assegurar sua continuidade. O curta foi exibido na mostra audiovisual do Seminário Fazendo Gênero e em escolas de ensino fundamental e médio de Brusque, Guabiruba e Blumenau.

O grupo Mbyá-Guarani habita desde tempos imemoriais as terras que se estendem entre o Uruguai, Argentina, Paraguai, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Catarinas: Como surgiu a ideia do projeto?

Vandreza: Surgiu da experiência de campo para a pesquisa de mestrado. O documentário pretendeu descrever e analisar como se dá a atual alimentação na reserva indígena Mbyá-Guarani tekoá vy’a. O foco é a alimentação e identidade do grupo, os conflitos que este vem vivendo em consequência dos impactos que o contato com a sociedade envolvente tem promovido, desde a perda dos seus territórios imemoriais com a colonização do sul do Brasil pelos portugueses. Sua resistência tem sido silenciada pelo governo e por grupos políticos interessados em seus territórios para fins puramente econômicos.

O propósito foi identificar como esse grupo vem se organizando em torno das mudanças alimentares promovidas por conta dessa situação, permitindo entender como afetaram a sua subsistência e alimentação, os prejuízos advindos para a sua saúde e identidade, até a situação atual, onde o grupo, reencontrando uma terra favorável à produção da sua dieta está buscando se reorganizar na sua tradição. O objetivo é colaborar com reflexões sobre a importância do território para a continuidade da tradição alimentar dos grupos indígenas e da sua identidade, já que a comida faz parte da construção desta identidade.  Com as informações em mãos decidimos em conjunto produzir o vídeo sob orientação da Profª. Drª. Marilda Checcucci.

Como foi o acesso, a troca com as pessoas que habitam a comunidade?
Conheci parte do grupo em 2006 quando estava morando em Florianópolis. Mudei-me para Brusque em 2010 e novamente entrei em contato com os Mbyá-Guarani por conta de uma atividade em um projeto em que trabalhava. Marcelo Benite “karaí xondaro”, Cláudia Benite “pará mirim” e Augustinho Moreira “werá tukumbó” fizeram uma palestra para crianças e foi muito positivo porque elas fizeram muitas perguntas. Em seguida, conheci o responsável pela aldeia Artur Benite “werá mirim” por conta do início de uma pesquisa de mestrado intitulada “Mbyá-Guarani, alimentação e identidade no território: a aldeia vy’a – Major Gercino (SC)”.

A experiência está sendo transformadora. Os Mbyá-Guarani veem o mundo de uma maneira muito particular, com um profundo respeito pela natureza e pelas pessoas. Vejo que temos muito a aprender com eles.

Quais línguas as moradoras e moradores falam? Como foi a comunicação durante as gravações?Todos falam Guarani. Que dizer, eu não. Aprendi algumas palavras. Os moradores e moradoras da aldeia falam diversas línguas como o português e o espanhol, inclusive outras línguas de outros povos originários. Mas para a gravação do vídeo eles falaram em português. Algumas ideias são expressadas em Guarani, primeiro pelo sentido de pertencimento ao grupo e segundo pela não tradução literal para a Língua Portuguesa. Já concretizamos outras parcerias, algumas em Guarani, que estão disponíveis pelo youtube no canal orérembiú eteí.

Assista ao documentário completo

De alguma forma as questões relacionadas às mulheres e gênero foram abordadas no doc?
Percebi que as influências da sociedade envolvente não foram suficientes para mudar radicalmente todos os elementos da tradição do grupo Mbyá-Guarani, em especial das mulheres que permanecem em busca de soluções para dar continuidade ao seu modo de ser. Essas mulheres resguardam a língua, os saberes sobre alimentos e plantas medicinais, os modos de fazer as comidas, a responsabilidade sobre a gestação, o parto e a educação dos filhos. Elas são protagonistas em diversos cenários. São determinadas no dia a dia da aldeia e contribuem decisivamente para discussão sobre identidade e gênero no grupo. Dentro e fora da aldeia.

As mulheres falam pouco no vídeo. O que isso revela?
O silenciamento das mulheres no vídeo indica as posturas cotidianas na aldeia e as interferências nas relações entre os indígenas e a sociedade envolvente onde os homens (nesse primeiro vídeo gravado nessa aldeia) são os protagonistas da voz para fora da aldeia e as mulheres com suas vozes dentro da aldeia para a família extensa. Ela é protagonista na educação e na postura do ser e devir.

Leia a entrevista completa no site portal Catarinas, Jornalismo com perspectiva de Gênero.


Fonte: Texto de Paula Guimarães, publicado pelo portal Catarinas, 20/08/2017.

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