Juventudes

Uma pedagogia do corpo

Porque a aprendizagem motora é um importante instrumento de educação do indivíduo.

É sabido que é necessário estimular mais que o lado cognitivo para ampliar o horizonte dos alunos em assuntos como cidadania, ética, trabalho, ciências, entre outros. O fomento ao corpo e ao movimento é uma ação pedagógica poderosa para que o indivíduo tome consciência de si e de seu papel na sociedade na medida em que possibilita uma nova linguagem de aprendizado e conexão com o mundo.

Nesse contexto, a escola é um espaço privilegiado para a construção de interações relevantes entre sujeito e ambiente que possam favorecer o processo de alfabetização corporal. “Crianças que têm uma vivência motora rica, com tarefas apropriadas para sua idade e um ambiente favorável, têm mais facilidade de manter e dar continuidade na prática esportiva, mantendo seus benefícios durante a fase adulta”, explica Eric Font, gerente de Esporte da Fundação Vale, que oferece programas de formação continuada a professores de Educação Física.

Além do desenvolvimento esportivo, a aprendizagem corporal favorece a evolução social, cognitiva e afetiva das crianças, habilidades determinantes para o sucesso pessoal e profissional.

Mas como alfabetizar corporalmente uma criança? Tudo começa pelo desenvolvimento motor, isto é, pelas mudanças que vão se operando no comportamento tanto da postura quanto no movimento da criança, de acordo com as diferentes idades. “É um processo de alterações complexas e interligadas das quais participam todos os aspectos de crescimento e maturação dos aparelhos e sistemas do organismo”, explica Font.

Logo, para que o desenvolvimento motor do indivíduo seja integral, é importante que o professor, no momento do planejamento das atividades físicas, leve em consideração não só a faixa etária como também o interesse dos seus alunos.

“As aulas devem ser divertidas e desafiadoras. O desenvolvimento motor das crianças deve ser considerado nas atividades propostas, mas também devem atender às expectativas delas. Por exemplo, uma criança de sete anos realiza bem determinado movimento e faz com dificuldade outros”, lembra Font.

Samuel Bento da Silva, professor de Educação Física da rede de Nova Odessa (SP) e especialista no tema, aponta que quanto mais diverso for o repertório de atividades ofertado para o aluno, melhor será seu desenvolvimento nesse sentido. “Uma habilidade motora básica como, por exemplo, arremessar uma bola será mais bem absorvida se for ensinada de diversas formas. Isto é, ao invés do professor só ensinar a arremessar com uma mão e em um alvo fixo deveria ensinar a jogar com uma, duas mãos, diferentes tipos de bolas, de distintos ângulos e posições e assim por diante”.

Para Silva, o jogo – aí incluso brincadeiras, esportes e outras manifestações do corpo – é a melhor estratégia para desenvolver essas habilidades, pois permite a combinação de movimentos de várias naturezas em um único momento. “Além disso, o jogo conta o elemento do inesperado, do adversário, que também é muito importante para o amadurecimento”.

Na prática, no entanto, nem sempre isso acontece nas escolas e outros espaços educativos. “De modo geral, a participação das crianças em práticas esportivas de qualidade nas escolas ainda precisa melhorar muito, principalmente nos grandes centros metropolitanos. Uma evidência disso é o aumento das doenças hipocinéticas nessas regiões, provocadas pela falta de atividades físicas” diz Font.

Silva também aponta como um desafio a formação do educador. “O professor de Educação Física precisa dar conta de ensinar esportes, danças, lutas e acaba se perdendo. Além disso, nas universidades, a maioria dos alunos tem o foco no bacharelado, isto é, desejam ir para a área de treinamento, de personal trainer, etc., e a Educação Física escolar acaba sendo deixada de lado”, conta.

Os prejuízos de um desenvolvimento motor não adequado vão desde a dificuldade na realização de tarefas fáceis do cotidiano até dificuldades de locomoção, em especial quando o mesmo resolve praticar uma atividade física na fase adulta, com possibilidade maior de lesão. “Um repertório motor reduzido pode, inclusive, excluir a pessoa de uma série de atividades sociais que exigem algum controle sobre o corpo”, diz o professor.

Para que isso não ocorra, um cuidado importante que o professor deve tomar está em evitar uma orientação para a especialização precoce em um determinado esporte. “A especialização limita a possibilidade das crianças realizarem movimentos que são fundamentais para o seu desenvolvimento saudável e harmonioso, limitando a parte física, cognitiva e social. Isto potencializa o abandono precoce em função do cansaço e de eventuais lesões”, diz Font.

Segundo os especialistas, o maior entrave para o investimento na área, no entanto, continua sendo a visão equivocada de que as aulas de Educação Física são menos importantes que as demais, isto é, são apenas recreativas e não ensinam conteúdos. “A Educação Física deve ser encarada como investimento na saúde e no desenvolvimento afetivo, cognitivo, social e esportivo. Quando falamos da Educação Física não podemos esquecer que a palavra ‘educação’ vem antes da palavra ‘física’”, conclui Font.

Fonte: Por Thais Paiva em Carta Educação, 31/03/2017.

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