Direitos Humanos

“Precisamos enegrecer a esquerda brasileira”, diz pesquisador

Lançamento de “O Pensamento Africano no Século XX” discute a importância da difusão do conhecimento africano no Brasil

“O movimento negro brasileiro precisa se internacionalizar mais, conhecer outros movimentos, se fortalecer. Se depender da esquerda brasileira, estamos mal. Ela é eurocêntrica, racista. Precisamos enegrecer a esquerda brasileira”, avalia Muryatan Santana Barbosa, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) e um dos colaboradores do livro O Pensamento Africano no Século XX, lançado nesta quinta-feira (9) na livraria da editora Expressão Popular, em São Paulo (SP).

O livro, que reúne pesquisadores brasileiros e africanos, realiza uma leitura crítica dos principais pensadores africanos do século 20. A publicação, organizada por José Rivair Macedo, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros, teve como foco a necessidade da difusão e discussão do pensamento africano no Brasil e de sua importância para o fortalecimento do movimento negro.

A obra aborda temas importantes da história africana e seus desdobramentos nos países da diáspora. Entre os teóricos explorados no livro, estão Frantz Fanon, Léopold Sédar Senghor, Achille Mbembe, Aimé Césaire e Cheikh Anta Diop.

“Essa obra mostra o quanto esses pensadores ainda têm para acrescentar. No fundo, esse trabalho tenta fazer uma sinfonia única de textos e narrativas de pesquisadores de diferentes origens e trajetórias que têm uma vontade de mostrar o pensamento africano do século 20 e como ele pode ser assimilado. Estamos em um caminho de lutas contra o desconhecimento. Precisamos mostrar que não há uma versão única sobre a história”, diz Gustavo Durão, professor da Universidade Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e responsável pela análise do pensamento de Senghor no livro, também presente na mesa de lançamento.

Nesse sentido, Barbosa acrescenta que O Pensamento Africano no Século XX é apenas “o primeiro passo” para a divulgação desses pensadores. Ele culpa a falta de interesse das editoras, de intelectuais brasileiros e da esquerda pela omissão das obras.

“Só agora estamos lançando um livro sobre pensadores africanos. Estamos felizes, mas falta muito. E há uma questão política importante envolvida: o Brasil é um país racista. São pouquíssimos os professores que sabem de pensadores africanos. Não tínhamos acesso a esse pensadores porque são poucos os que têm a oportunidade de ler em inglês ou francês. Ainda é raro no Brasil encontrar intelectuais negros. Estamos chegando agora nas universidades. Agora que vamos pensar sobre nossas questões”, diz.

Resgate da tradição

Para os pesquisadores, o livro é importante também por resgatar valores “fora do eixo ocidental” e mostrar que “não há uma versão única da história”. “Há um viés revolucionário que rompe com um mundo branco, ocidental e europeu”, aponta Durão.

Já Muryatan acredita que o livro traz a possibilidade de debater de forma massiva todas as discussões políticas, culturais e históricas a partir da tradição do pensamento africano. “Isso é absolutamente novo. Estamos começando de fato construir uma teoria política menos eurocêntrica na esquerda brasileira”, pondera.

Pensadoras negras

A certa altura do debate, a ausência de pensadoras negras no livro foi questionada. Segundo a educadora popular Marli Aguiar, outro desafio do movimento negro é conseguir dar espaço às mulheres. “Temos que colocar as mulheres também como pensadoras na construção de um mundo diferente, para não passar uma ideia errônea de que a luta por direitos é um processo puramente masculino”, afirma.

Segundo ela, há uma hierarquia no mercado editorial que, primeiramente, absorve obras de homens brancos, depois das mulheres brancas, pouco dos pensadores negros e uma parcela ínfima de pensadoras negras. “Estamos na luta para reivindicar esse espaço de importância para nós. Como não sobra muito, a gente vai criando espaços alternativos para mostrar a importância do nosso papel”, diz Aguiar.

Santana acrescenta que a questão das mulheres é a “mea-culpa que está no pensamento de todo o pan-africanismo”. “Precisamos de mais livros sobre feminismo negro. Veja como Angela Davis está vendendo. A questão do machismo é muito forte. Isso traz problemas para a construção da luta política. Não há pan-africanismo sem mulheres”, conclui.

Fonte: Nadine Nascimento, Brasil de Fato, 10/02/2017. Edição: Camila Rodrigues da Silva

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